O incontornável papel das PMEs na sustentabilidade do ecossistema empresarial
Sendo o ecossistema empresarial em geral composto, em mais de 99%, por PMEs, é inegável que, sem estas, os objetivos de sustentabilidade que integram a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável não são, pura e simplesmente, passíveis de ser atingidos.
Nesta matéria, Portugal não é exceção, dada a preponderância de PMEs também no nosso País.
Não obstante, ouvimos muitas vezes dizer que os desafios da sustentabilidade em geral e do framework ESG em particular são para “as grandes”, porque as PMEs não têm recursos para acompanhar estes temas. Mais ouvimos que, tanto assim é, que, no European Green Deal, a Comissão Europeia criou pesadas obrigações em matéria de reporte de sustentabilidade essencialmente para as grandes empresas, deixando as PMEs, pelo menos para já, de fora. Ouvimos finalmente que, apresentando as PMEs, à partida, menores externalidades com impacto negativo na Sociedade e no Planeta, não lhes pode ser exigido pelos stakeholders relevantes, o mesmo grau de compromisso em matéria de sustentabilidade.
Esta é, para o GRACE, uma visão profundamente errada, que não presta um bom serviço aos muitos milhares de PMEs portuguesas. E que, como tal, procuramos combater.
Com efeito, se os aludidos argumentos podem até ser válidos no contexto de um olhar sobre os temas da sustentabilidade alicerçado essencialmente numa lógica de compliance, o cenário muda completamente de figura se, como na visão do GRACE não pode deixar de ser, a abordagem do tema assentar numa lógica de competitividade. É que, as empresas que não forem capazes de se manter competitivas, mais do que arriscarem o pagamento de coimas, arriscam o seu próprio futuro.
Ora, as empresas – grandes ou pequenas, não importa! – que não acelerarem a sua jornada de sustentabilidade terão, desde logo, uma acrescida dificuldade de acesso a financiamento, tendo em conta que o sistema financeiro está a ser profundamente incentivado a dotar-se de um portfolio “mais verde”, deixando de financiar – ou financiando a um preço mais caro – as empresas que não se mostrem determinadas a ser mais sustentáveis.
De igual forma, há que ter em atenção que serão poucas a PMEs que não estão na cadeia de fornecimento de empresas maiores (ou de mercados mais sofisticados, como genericamente sucede com PMEs exportadoras). Como tal, as pressões de sustentabilidade a que estas empresas maiores/mais sofisticadas terão forçosamente de atender, projetam-se necessariamente sobre as PMEs suas fornecedoras, fruto do conhecido efeito “trickle down”.
E, as razões pelas quais é errado “dispensar” as PMEs de apostar fortemente na respetiva sustentabilidade poderiam continuar a ser elencadas, se coubessem no número de carateres deste artigo. Mas não cabem.
O que nele não pode deixar de caber é a convicção de que as PMEs Líder não serão necessariamente as que gerarem um maior volume de negócios no curto prazo. Ou as que crescerem a um ritmo mais acelerado, ou para mais mercados.
Serão, antes, aquelas que compreenderem mais cedo que lucro e prosperidade não se equivalem e que só a adoção e implementação de uma estratégia de sustentabilidade as conduzirá a um futuro próspero.
Margarida Couto
Presidente do GRACE, em representação da Vieira de Almeida & Associados