“As empresas dos Açores estão já a fazer um percurso notável para a sustentabilidade mediante a partilha de experiências”

“As empresas dos Açores estão já a fazer um percurso notável para a sustentabilidade mediante a partilha de experiências”

Pedro Amaral Frazão, membro da Direção do GRACE em representação do Grupo Sousa Investimentos SGPS, em entrevista ao Correio dos Açores, fala sobre as I Jornadas Regionais da Sustentabilidade, que decorrem já a 25 de setembro, em Ponta Delgada, nos Açores.

“Correio dos Açores: –  Quais os objectivos das I Jornadas Regionais da Sustentabilidade?
Pedro Amaral Frazão (Administrador do Grupo Sousa) – Trata-se de uma iniciativa promovida pela Associação GRACE – Empresas Responsáveis, mais concretamente pelo Cluster GRACE – Açores, que foi constituído no final do ano passado.
O Cluster do GRACE – Açores, é coordenado pela Bel, Grupo Sousa e SATA, hoje conta já com 15 empresas associadas, boa parte delas com sede nos Açores
O evento, que está a ser organizado por duas empresas associadas do GRACE, a EDA e a Finançor, terá lugar no dia 25 de Setembro e tem como título “A Chave para o Futuro”. De facto, estas são as primeiras Jornadas Regionais da Sustentabilidade organizadas pelos associados do Cluster GRACE -Açores e o objectivo é partilhar com os participantes alguns dos desafios que se colocam em matéria de sustentabilidade nas suas três dimensões: ambiental, social e no terceiro pilar, não menos importante, da boa governação. Por conseguinte, pretende-se debater um pouco estes temas, trazendo testemunhos de empresas para partilharem estes desafios nas várias dimensões e como os têm vindo a ultrapassar.

Em sua opinião, qual é a importância da sustentabilidade para o incremento da competitividade nas empresas?
A razão de existir da Associação GRACE – Empresas Responsáveis, que hoje tem cerca de 300 empresas associadas, é justamente apoiá-las na sua jornada de sustentabilidade. Com esta iniciativa, tal como muitas outras que são desenvolvidas ao longo do ano em todo o território nacional, procuramos sensibilizar as associadas, assim como o público em geral, para a importância da sustentabilidade. A sustentabilidade integra-se hoje na estratégia das empresas sendo uma moldura que tem três pilares, que se complementam.
O pilar ambiental implica desenvolvermos operações, cada vez mais, impactando o menos possível de forma negativa no ambiente. Há um conjunto de tópicos neste tema, onde se incluem a redução das emissões, a preservação dos recursos hídricos, entre outros.
Por outro lado, do ponto de vista social, a capacidade de as empresas gerarem impacto social positivo, não só para os seus colaboradores, desde logo, mas também para as comunidades onde operam.
Não menos relevante e também na agenda das empresas está a importância de terem uma boa governação. A questão da boa governação é hoje particularmente importante, na medida em que há um conjunto de normas progressivamente mais exigentes que fazem com que as empresas tenham, obrigatoriamente, que reportar os seus resultados, tanto financeiros como não financeiros. A estratégia das empresas fará, a longo prazo, com que as empresas reforcem a sua competitividade perante outras cujos desempenhos possam ser mais fracos.

Como se pode potenciar a cultura da sustentabilidade nas empresas?
Desde logo, com a informação e sensibilização dos quadros das empresas, e fazer com que essa cultura se dissemine à estrutura das empresas. Ora, as empresas têm variadíssimas dimensões, desde empresas muito grandes a microempresas. Há uma escala que será adaptada à realidade, não só na dimensão de cada empresa mas também quanto às actividades que essas empresas desempenham. É evidente que um grupo hoteleiro terá exigências distintas de um grupo que opera, por exemplo, na logística, ou de outro na área da saúde. Por conseguinte, cada uma das empresas terá de adaptar, de acordo com a sua própria realidade, as metas de sustentabilidade que estão dispostas a seguir, desejavelmente de modo a que a execução da sua estratégia não coloque em perigo a sua própria existência. Estamos a falar de sustentabilidade, mas também de sustentação para que as empresas sejam sustentáveis, sem que percam competitividade. Na realidade, as empresas estão perante uma dupla exigência: a da sustentabilidade, assente nos seus três pilares, mas também da sua própria sustentação, para não definharem e deixarem de existir. Ou seja, a sustentabilidade tem que ser sustentada.

Que papel devem ter os novos líderes na sustentabilidade?
Os novos líderes das empresas estão, na sua maioria, conscientes dos desafios que se colocam em matéria de sustentabilidade. Essa consciência faz com que a gestão de topo das empresas, cada vez mais, incorpore a sustentabilidade nos seus processos de decisão. As exigências em matéria de sustentabilidade traduzem-se sempre em investimentos, em tempo e recursos, muitas vezes, investimentos financeiros, com vista a obter melhores desempenhos. Do ponto de vista ambiental, forçosamente, na maioria dos casos, necessitam de investimentos. Por exemplo, uma empresa que se dedique ao transporte rodoviário, e que pretenda ter um impacto ambiental menos negativo nas suas operações, terá, provavelmente, que eletrificar parte da sua frota ou utilizar combustíveis com baixo ou nenhum teor de carbono (biocombustíveis). Um investimento dessa natureza obriga a que sejam feitas projeções a prazo, para garantir que os serviços que oferece continuem a ser competitivos nos mercados onde opera. O desafio é grande e não há uma receita universal para todas as empresas. Há um percurso que terá de ser feito e é para apoiar as empresas no seu caminho de sustentabilidade que a Associação GRACE actua para, através dos diferentes percursos das empresas associadas do GRACE, ajudar a encontrar os melhores caminhos, com base na experiência e boas práticas a nível nacional e internacional.

Qual é o papel da educação na estratégia da sustentabilidade?
Uma das actividades que a Associação GRACE conduz é a de contacto com as universidades, na medida em que estas formam os futuros quadros. Um dos vectores de intervenção é justamente o programa que temos com as universidades. Há um conjunto de actividades que permitem que levemos o tema da sustentabilidade à academia na óptica empresarial. O que é que nós, empresas, estamos a fazer? O que é que partilhamos com os estudantes? Partilhamos sensibilidade para a sustentabilidade. Na realidade, assim que acabem os seus ciclos de formação, eles vão entrar em empresas onde o tema da sustentabilidade está em cima da mesa. Levamos, de viva voz, testemunhos daquilo que as empresas estão a fazer, muitas vezes, na dupla função de os sensibilizar para o tema da sustentabilidade, explicando o que as empresas fazem, e dando também uma mostra daquilo que são potenciais portas para a empregabilidade desses jovens no seu futuro, no final dos seus cursos. Esta é uma dimensão que ocorre especificamente com as instituições do ensino superior, mas que pode ser alargada às escolas do ensino secundário.
No entanto, é preciso sublinhar que há, inclusivamente, várias escolas em Portugal que têm programas próprios que abordam a sustentabilidade. Os corpos docentes e direcções das escolas estão sensibilizados para o tema da sustentabilidade, embora muitas vezes de forma não tão abrangente como as empresas o fazem, tendo em conta que estas trabalham o tema da sustentabilidade nas suas três dimensões, ambiental, social e de boa governação. Normalmente, nas escolas, o tema mais explorado é o da sustentabilidade ambiental, visto que é o mais simples de transmitir aos jovens e porque permite desenvolver ações com resultados imediatos (separação de lixo, limpeza de praias, etc.).

Esse é um caminho que se está a começar a trilhar nos Açores ou já foram dados passos nesse sentido?
Os Açores já têm uma agenda para a sustentabilidade, claramente, com o percurso que já está a fazer, de forma notável. O que o Cluster do GRACE -Açores está a fazer é apoiar, sensibilizar e mobilizar as empresas associadas que operam nos Açores, e o tecido empresarial açoriano, para as boas práticas de sustentabilidade mediante a partilha de conhecimentos e experiências.
A iniciativa que vai ocorrer no próximo dia 25 de Setembro decorre justamente do plano de acções delineado, que tem vindo a ser executado ao longo deste ano.

Quais são os principais desafios para a sustentabilidade, para as empresas açorianas?
Penso que as empresas açorianas não têm desafios distintos daqueles que têm todas as empresas do tecido empresarial português. Nas suas várias dimensões e áreas de actividade, as empresas açorianas vivem, neste capítulo da sustentabilidade, exactamente o mesmo que as outras empresas a nível nacional, que estão sediadas em Coimbra, Funchal, Lisboa, Porto, ou noutras cidades. É um desafio comum. O mais importante é que cada empresa faça o seu percurso na justa medida da sua capacidade e em linha com a estratégia que definiu ou venha a definir.

O facto de serem microempresas complica ou facilita?
Não complica nem facilita. É sobretudo preciso perceber que, muitas vezes, as pequenas, médias e microempresas, são fornecedoras de empresas de maior dimensão. A partir do momento em que a regulação obriga – e obrigará progressivamente – a que as maiores empresas tenham maiores exigências de reporting não financeiro, além do financeiro, fará com que os participantes da sua cadeia de valor (stakeholders), sobretudo dos seus fornecedores, mas também dos seus clientes, sejam progressivamente questionados sobre aquilo que às grandes empresas está a ser exigido. Ou seja, as pequenas, médias e microempresas terão que “seguir nas águas” dos requisitos a que as grandes empresas estarão obrigadas, pelo que acabam sempre por estar envolvidas. É evidente que terão um envolvimento menos exigente, pelo menos inicialmente, mas progressivamente serão cada vez mais envolvidas. É um processo que tomará o seu tempo e para o qual a Associação GRACE tem procurado sensibilizar as empresas associadas.

João Paz/Carlota Pimentel *”

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