11 novembro, 2025

Circularidade, o novo centro da ambição climática europeia

Artigo Ana Trigo Morais

Circularidade, o novo centro da ambição climática europeia

À medida que o mundo se reúne em Belém do Pará para a COP30, no coração da Amazónia, é inevitável sentir a distância entre o ideal e a realidade. As previsões científicas mais recentes, como as do estudo da Climate Analytics, alertam que o mundo deverá ultrapassar o limite de 1,5 °C já no início da década de 2030, um sinal claro de que a ação coletiva tem ficado aquém do necessário. Mas, como lembram os autores do relatório, “1,5 °C continua a ser a bússola”.

Num contexto global em que os compromissos parecem abrandar, a Europa não pode vacilar. Através da Directorate-General for Environment (DG ENV) e da Directorate-General for Internal Market, Industry, Entrepreneurship and SMEs (DG GROW), a União Europeia tem colocado a economia circular no centro da sua estratégia de autonomia estratégica e descarbonização. Porque limitar o aquecimento global não depende apenas de metas climáticas, depende da forma como produzimos, consumimos e gerimos os nossos recursos.

Em Portugal, a Sociedade Ponto Verde (SPV) tem sido um dos rostos dessa transição. Há quase três décadas, a SPV tem vindo a transformar a gestão das embalagens num verdadeiro ecossistema de inovação e corresponsabilidade, desafiando produtores, consumidores e municípios a partilhar uma mesma missão: valorizar o resíduo como recurso. Hoje, esse modelo é uma referência europeia, e um contributo concreto para a redução de emissões e para o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris, não apenas através do compromisso ambiental, mas também pelo avanço das metas nacionais de recolha e reciclagem de embalagens.

O papel representa um dos melhores exemplos do potencial transformador da economia circular. É renovável, reciclável e biodegradável, e demonstra como a circularidade pode unir eficiência económica e benefício ambiental. Atingir e superar as metas de reciclagem de papel e cartão, hoje entre os fluxos mais circulares do país, é uma das formas mais diretas de traduzir o espírito do Acordo de Paris em resultados mensuráveis. Cada tonelada de papel reciclado significa menos árvores cortadas, menos energia gasta e menos emissões libertadas para a atmosfera. Num mundo que se aproxima rapidamente do limiar de segurança climática, cada ciclo de reciclagem conta, e conta duplamente, tanto para o planeta como para a competitividade das empresas.

A SPV tem vindo a investir em digitalização, rastreabilidade e inovação tecnológica para reforçar a qualidade do material reciclado e maximizar o seu valor económico. Estes avanços não são apenas melhorias de processo, são instrumentos concretos para acelerar o cumprimento das metas nacionais de circularidade e contribuir para os compromissos climáticos europeus. É a base de um novo modelo de crescimento, regenerativo, em que o desenvolvimento industrial e a ação climática caminham lado a lado.

A COP30 deve ser o momento de transformar a urgência em ação. O relatório da Climate Analytics é claro: a ultrapassagem do limite de 1,5 °C seria um fracasso político lamentável, mas ainda é possível recuperar o caminho, se forem redobrados os esforços para eliminar progressivamente os combustíveis fósseis e expandir soluções de baixo carbono. E é precisamente neste esforço coletivo que a circularidade, com metas claras, mensuráveis e próximas, assume um papel essencial, como política industrial, compromisso empresarial e prática quotidiana.

Em Portugal, temos as condições para mostrar que a transição é possível: um setor do papel e das embalagens robusto, uma sociedade civil mobilizada e empresas que assumem o seu papel de liderança climática. A Sociedade Ponto Verde acredita que este é o momento para reforçar o alinhamento entre ambição europeia e ação local, para provar que a circularidade é, simultaneamente, uma resposta ambiental, económica e civilizacional.

Porque, se o desafio de 1,5 °C é o limite da ciência, as metas de circularidade e de reciclagem são o nosso caminho concreto para lá chegar. E é desta vontade política, empresarial e coletiva que depende o futuro que ainda podemos regenerar.

Porta-voz: Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde

 

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